Sejam bem vindos

Saudações amados amigos, sou o Presbítero Junior, estou agora como obreiro na Congregação da II Igreja Congregacional de Campina Grande em São Vicente do Seridó - Paraíba.


terça-feira, 20 de setembro de 2011

"QUANDO MEMBROS ESTÃO DIVIDIDOS, O CORPO SANGRA"


A igreja evangélica tem sido constantemente penalizada por divisões, rachas e cismas. A intolerância, a falta de amor e a luta pelo poder são possivelmente as causas mais recorrentes dessa tragédia. Existe na cultura evangélica atual uma grande dificuldade de doação em torno de projetos institucionais, corporativos e coletivos. A forte ênfase que se dá ao sucesso pessoal tem promovido lideranças personalistas e antidemocráticas. O resultado disso é que a todo tempo assistimos perplexos o surgimento de novas igrejas ou grupos eclesiásticos, cuja origem dar-se no interior de corações arrogantes, competitivos, intolerantes e carnais.

O Espírito de “Babel” (Gn 11.1-11) impera na cultura pragmática do pós-modernismo. Trata-se de uma cultura fragmentária, onde a igreja, a doutrina, a família e demais instituições são transformados em pequenos fragmentos e sacrificados no altar do “eu quero”, “eu acho”, “eu posso”. A centralidade do eu corrói como um cupim os verdadeiros pilares da fé cristã. O império do “eu” se legitima em nome do êxito pessoal, da prosperidade material e do endeusamento do próprio nome.

Nesse contexto em que a ética e a moral são o que menos importa para muitos, a igreja é usada como meio de favorecimento pessoal, o evangelho é negociado nos balcões da fé e a credibilidade e a reputação dos líderes ocupa as piores colocações nas pesquisas de opinião pública. O Espírito de Babel não consegue produzir nenhum projeto que não resulte em confusão. Babel se encontra naturalmente debaixo da sentença do juízo divino. O Espírito de Babel é insensível, insensato e demasiadamente egoísta. Babel é maldição, tudo que põe a mão termina em divisão.

A igreja tem o dever de contrariar essa cultura mundanista vivendo a cultura do reino de Deus. Precisamos ser manso e humilde de coração, devemos considerar o outro superior a si mesmo, necessitamos promover a unidade na diversidade. Se queremos preservar a unidade é preciso que consideremos as diferenças sem demonizá-las. As diferenças existem e, por isso mesmo, o amor, a misericórdia e o perdão são tão essenciais na construção e preservação dos relacionamentos. Os fundamentos da unidade são mais fortes do que os pontos que tentam nos separar. Afinal, “há somente um corpo e um Espírito... há um só Senhor, uma só fé, um só batismo; um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, age por meio de todos e está em todos” (Ef 4. 4-6).
Gostaria de considerar a visão bíblica de unidade a partir de quatro aspectos, através dos quais poderemos superar quaisquer diferenças.

1. A unidade do Espírito – Quando penso no mover do Espírito no seio da igreja, penso em quebrantamento, vida piedosa e corações contritos. É somente pelo poder do Espírito que nos despojamos de nós mesmos, renunciamos o nosso próprio eu, relativizamos as nossas vontades, nos colocamos no lugar do outro e baixamos as nossas armas. Não acredito na unidade promovida pelo homem. Tudo que vem do homem é carnal, é motivacional ou essencialmente corrompido. A verdadeira unidade representa uma expressão da espiritualidade bíblica, que só o Espírito de Deus pode produzir na experiência cristã. Só pelo Espírito o eu é descentralizado e o governo de Deus efetivado nos corações. A unidade é requisito para o aviva-mento, e avivamento transforma partidos divergentes em ajuntamento solene e comunitário. Por isso, devemos atentar para a exortação bíblica: “Esforçando-vos diligentemente por preservar a unidade do Espírito no vínculo da paz” (Ef. 4.3).

2. A unidade doutrinária – A doutrina é o cimento que une os membros da igreja. A unidade emana da identificação existente entre aqueles que desfrutam da mesma identidade. Na igreja primitiva a unidade, a comunhão e o partir do pão são referendados como frutos de uma mesma experiência: “Perseveravam na doutrina dos apóstolos” (At 2. 42). A doutrina é ao mesmo tempo o elemento que une os discípulos de Cristo e os diferenciam das multidões e falsas religiões. Não podemos, em nome da unidade, sacrificar a doutrina. Qualquer ecumenismo religioso que atribui à doutrina um caráter secundário é nocivo à saúde da igreja. Por outro lado, a defesa da doutrina não pode ignorar a importância da unidade. Daí porque os que defendem, falam e pregam a verdade, o façam com amor. A intolerância, e a intransigência desembocam em sentimentos odiosos e posicionamentos legalistas que comprometem a boa comunhão. O centro da doutrina cristã é Cristo. Se queremos que os homens o enxergue como o enviado de Deus, que, então, sejamos um (Jo 17. 23).

3. A unidade do corpo – Se a igreja é o corpo de Cristo e Cristo o seu cabeça, isso faz de nós naturalmente membros uns dos outros (I Cor. 12.26-27). Quem promove divisão na igreja não está simplesmente atingindo uma instituição ou estabelecendo uma nova organização eclesiástica (igreja, ministério ou denominação), está, sim, ferindo o corpo de Cristo. Como diz Calvino “quando os membros estão divididos, o corpo sangra”. Enquanto a igreja se divide pelas razões mais banais e infantis possíveis, o corpo padece e sinais de fraqueza se evidenciam no cumprimento da missão.

O modo mais bíblico e inteligente de mantermos a unidade do corpo é reconhecendo que o único cabeça é Cristo e que cada membro tem uma missão particular dada por Deus visando à edificação do todo. Não podemos criar uma guerra entre os dons. Cada dom tem seu valor e quem o recebe deve exercitá-lo com temor e zelo. Todos os dons são úteis, pois provém do Espírito Santo (I Cor. 12.7). Os dons são diferentes e distribuídos a pessoas diferentes visando à unidade e diversidade do corpo (I Cor. 12.28-31). Isso significa que eu não tenho que divergir com meu irmão nem desdenhar dele pelo simples fato de que Deus o usa de um modo diferente. Nem todo mundo é olho, boca ou mão (I Cor 12.14-20). Nenhum membro concentra a totalidade das virtudes do Espírito. Precisamos uns dos outros e a igreja precisa de todos para se manter saudável e relevante.

4. A unidade trinitária – O modelo de unidade que queremos para igreja não pode ser produzido pela mera experiência humana. A verdadeira unidade é uma obra do Pai, do Filho e do Espírito Santo na vida de pessoas, que de outro modo, jamais poderiam desfrutar da comunhão bíblica. O Deus Trino que opera na vida da igreja se apresenta como modelo comunitário ideal: “Que todos sejam um; e como és tu, ó Pai, em mim, e eu em Ti, também sejam eles em nós; para que o mundo creia que tu me enviaste” (Jo. 17.21). A nova vida que a igreja desfruta é uma obra do céu. A vocação da igreja é o céu e o modelo de unidade vem do céu.
A unidade é uma experiência que transcende as tendências culturais e as vaidades do coração humano. A unidade que se projeta na Trindade rompe barreiras, quebra preconceitos e se evidencia na experiência do amor e do perdão. Ser igreja é se comprometer em transcender a mesmice de uma cultura odiosa, egoísta e perversa, no propósito de promover na Terra a comunidade divina.

Conclusão
É dever de cada crente e de cada líder preservar a unidade da igreja. Lutar pela comunhão é tarefa de todo aquele que ama o Senhor da igreja e que deseja ser instrumento nas mãos do Espírito para edificar a Igreja do Senhor. Que o Senhor gere em nossos corações a harmonia que precisamos para que sejamos mais relevantes. Que nenhum espírito de divisão encontre lugar para operar em nosso meio. Que a longanimidade e benignidade sejam virtudes bem presentes em nossas motivações e ações.


Por Pastor Aurivan Marinho (presidente da Aliança das Igrejas Evangelicas Congregacionais do Brasil)
Fonte: http://www.aliancacongregacional.org.br/index.php/carta-pastoral/28-quando-os-membros-estao-divididos-o-corpo-sangra